ÂNGELO DE LIMA
«Pára-me de repente o pensamento
Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento…
Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado…
Pára e fica e demora-se um momento.
Pára e fica na doida correria…
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria
Um olhar de aço que essa noite explora…
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.»
LIMA, Ângelo de, “Líricas Portuguesas”, seleção, prefácio e notas de Cabral do Nascimento: Lisboa, Portugália Editora, 1945
João Andrade
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Crowdsourcing e a nova Web
Esta notícia de Nivaldo Marcusso postada na itweb informa-nos sobre as potencialidades da inteligência colectiva, o crowdsourcing e os seus moldes, a potencialização das massas através de suportes da nova Web 2.0, retirada do site http://www.itweb.com.br/noticias/index.asp?cod=55888 .
João Andrade
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João Andrade
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Arquipélago da Memória
Era uma tarde abrasiva, na Saxónia alemã, na Hauptbannhof de Merseburg. Chegava ao fim uma aventura ERASMUS na antiga Alemanha comunista. A Mary e eu tinhamos a mochila bem equipada, documentos e últimos tustos nas bolsas da mochila, não fosse o Diabo apetecê-las e furar-nos os bolsos. Na mochila que andou sempre comigo (até mesmo no voo), trazia o pc portátil, uma garrafinha de Jegameister, a bandeira alemã assinada pelos camaradas da residência, e o Arquipélago da Insónia. Quebradiço, derrotista, magoado até, não com as «cadeiras» nem com o «baú de roupa velha», mas com o tempo, os anos virtuosos em sentimentos de amor por um lado, medo por outro. O amor afinal é pertença das pequenas coisas. A capa cinza, estampada com um miúdo parecido comigo, naquela viagem de 17 de Julho, numa Frankfurt igual ao que tinha visto nas minhas primeiras pisadas na Alemanha. Cheguei com a Mary às dez da noite a Frankfurt Öder, cansados e sujos, remetidos para uns bancos junto das casas de banho, à porta de entrada, envidraçada, automática, num abre e fecha a noite toda, o frio de uma chuvada enregelava os ossos. Quando chegaram as duas da manhã a Mary caiu no sono e acabou por se deitar no chão, e o miúdo semi nú voltou a olhar para mim. Lobo Antunes e memória do avô, o cavalo da família, o sotão com cheiro a mofo, o «baú de roupa velha», bem como eu trazia uma quantidade enorme de palavras, lembranças, o livro caído no chão, o cinzeiro atestado de pontas, o bis morgen do Sebastian naquele dia, um arquipélago de memórias portanto. Cada uma delas dolorosa à sua maneira, mas ao uni-las como une o nosso coração ou cérebro, uma a uma, construiu uma malha desenhada a régua e esquadro, um arquipélago aliás, de coisas que nos tiram o sono.
Matemático como Pedro Nunes, o inventor do nónio no cada vez mais esquecido século XVI, Lobo Antunes é matemático literário contemporâneo, e a obra o Arquipélago da Insónia foi a última peça do puzzle do que foi a minha vida na Alemanha.
João Andrade
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